“Vem, vem pra rua vem”. A palavra de ordem do movimento pelo passe livre foi cantada nos quatro cantos do país na tarde e noite da segunda-feira (17/6), na maior jornada de protestos dos últimos 21 anos no Brasil. Houve manifestações em praticamente todas as capitais.
Nos maiores atos desde o Fora Collor, movimento que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor em 1992, os manifestantes voltaram a defender a revogação dos aumentos dos preços das passagens dos ônibus e o fim da violência policial contra os protestos, mas muitas outras reivindicações foram levadas às ruas. A defesa de serviços públicos decentes e críticas aos governos deram a tônica nas ruas.
Os enormes gastos de dinheiro público com a Copa do Mundo foram repudiados. “Da Copa eu abro mão, quero saúde e educação”, cantaram os manifestantes no ato que ocupou a avenida Rio Branco, no Rio, e reuniu, segundo a Polícia Militar, cerca de cem mil pessoas.
Estimativas divulgadas por alguns jornais, ainda não confirmadas, apontam que pelo menos 250 mil pessoas foram às ruas país afora. Os maiores ocorreram no Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Belém, Brasília, Salvador e Porto Alegre. Em São Paulo, o instituto Data Folha avaliou a multidão em 65 mil pessoas. Em Belo Horizonte, pelo menos 30 mil ocuparam a cidade, onde acontecia uma partida da Copa das Confederações.
ESTUDANTES E TRABALHADORES — O perfil da imensa maioria dos manifestantes continuou sendo o de estudantes, mas a participação de trabalhadores de diversos setores, entre eles os servidores públicos, cresceu visivelmente. “Temos que unir todo mundo, estudantes e trabalhadores. Estava com saudade disso”, resumiu o servidor Acácio Aguiar, do TRF-RJ, quando a passeada do Rio ainda dava os primeiros passos e era recebida com uma chuva de papéis picados.
A vibração dos manifestantes, chamando quem assistia e aplaudia das janelas dos prédios comerciais a participar, impressionava. “Nunca vi algo assim”, comentava uma jovem estudante. Perto dali, outra universitária ainda pintava numa cartolina a frase “Não é só por 20 centavos”, síntese do movimento que vem sendo reproduzido em diversos atos.
Na capital paulista, o servidor Waldo Mermelstein, do TRF, postou na internet uma foto do ato na principal avenida de São Paulo e expôs a emoção de quem já vivenciou muitos outros momentos históricos. “Estava aqui quando a primeira leva de manifestantes ocupou a Paulista… confesso que as lágrimas me vieram aos olhos ao ver seu entusiasmo e alegria… e eu trabalho todos os dias a cem metros de onde tirei a foto… o contraste entre o dia e a noite nunca foi tão grande…”, escreveu.
PM DÁ TIROS DE FUZIL NO RIO — Em algumas capitais, como o Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília houve enfrentamentos entre manifestantes e policiais. Na capital do país, as cúpulas do Congresso Nacional foram tomadas pela multidão. No Rio, o ato terminou em frente à Assembleia Legislativa (Alerj), onde os manifestantes por pouco não ocupam o Palácio Tiradentes. Pelos menos três carros foram queimados. Há registros filmados de que policiais militares e homens vestindo trajes civis ao lado destes dispararam longas sequencias de tiros não de borracha, mas de fuzil e pistolas. As imagens foram divulgadas no site do jornal “Extra”.
Também houve atos nos Estados Unidos, na América do Sul e na Europa em apoio às manifestações. Levantamento mostra que já aconteceram protestos neste sentido em 46 cidades do exterior desde o final de semana. Novas manifestações, no Brasil e algumas no exterior, já estão sendo convocadas. “O Gigante acordou”, afirmam cartazes levados às manifestações. (informações do Luta Fenajufe Notícias)