“Não pagaremos a conta da crise”. Essa foi a ideia que dominou o segundo ato nacional da campanha salarial dos servidores públicos federais, que agregou setores dos movimentos sociais, estudantes e trabalhadores de outras áreas para defender a saúde e a educação pública, motivos centrais do protesto. A isso, porém, associou-se outra bandeira que não deixa de estar relacionada: a rejeição às medidas impostas aos trabalhadores pelo governo Dilma Rousseff (PT) sob o pretexto de combater a crise e a estagnação da economia.
A passeata começou no final da tarde de sexta-feira (6), na Praça da Cruz Vermelha, parou em frente ao prédio da Petrobras, na av. Chile, e terminou, por volta das 20 horas, na sede do MEC (Ministério da Educação), no centro do Rio. Reuniu, além de centenas de servidores da capital fluminense e de outros estados, um grupo de operários do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que estão com os salários atrasados há três meses e ‘pagam’ pela crise decorrente em parte dos escândalos da Petrobras, e trabalhadores do movimento sem-teto, liderados pelo MTST. “Todos nós dependemos da saúde, estamos lutando por moradia, mas por saúde, educação, saneamento também”, disse, à reportagem, a desempregada Eliete Alves, moradora do Jardim Catarina, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
RESISTÊNCIA NO PARANÁ — O ato criticou a política do governo de privatizar hospitais públicos por meio de organizações sociais e de uma empresa estatal de direito provado, a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Mas também prepara a mobilização das categorias para enfrentar os ataques a direitos trabalhistas, previdenciários e aos serviços públicos em si, que marcam esse início de ano. O presidente do Andes, o sindicato nacional dos docentes, Paulo Rizzo, classificou as medidas do ajuste fiscal do governo como inaceitáveis cortes de direitos dos trabalhadores e disse que a redução do orçamento em 30% impede as universidades federais de iniciar o ano letivo.
Ressaltou, no entanto, que o governo não terá facilidade para levar adiante tais projetos porque tudo isso têm sido respondidos com luta e enfrentamento, disse, e que a principal demonstração disso “é a greve dos servidores do estado do Parará”, que se levantaram contra as medidas que atacam a carreira pública e a Previdência. “Este ato é um passo no início de uma grande jornada de lutas que 2015 exige de nós. Será necessário reconstruir a unidade dos trabalhadores no terreno classista contra os planos de ajuste econômico, contra o corte de direitos. Nós precisamos reunir forças, a realidade de nosso país é muito maior do que uma disputa se tem golpe ou contragolpe, temos que ir às ruas mobilizar na defesa de nossos direitos e dos direitos da população”, disse ao final de seu discurso, feito do carro de som, numa crítica tanto aos setores da direita que se opõem ao governo quanto aos sindicalistas que defendem a presidente Dilma Rousseff.
A manifestação reuniu delegações de servidores de outros estados do país, em especial técnico-administrativos das universidades federais, que realizavam no Rio uma plenária nacional da federação que representa esse segmento, a Fasubra. É o caso da auxiliar de enfermagem Rufina Roldam, dirigente do sindicato da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Sinditest). “Só a luta e a mobilização que muda isso. Se as pessoas ficarem dentro de casa reclamando, não vai mudar nada. Tem que vir pra rua”, disse.
Servidores do Judiciário Federal também participaram. O aposentado Flávio Conrado Júnior, do Sintrajud-SP, osindicato dos trabalhadores do setor em São Paulo, disse acreditar que o ato no Rio seja apenas o início de “um ciclo de muitas manifestações esse ano da parte dos servidores das três esferas e dos trabalhadores em geral”, por conta do “descaso das autoridades”, do “cipoal de corrupção” na Petrobras — continuidade de algo que vinha de governos passados, segundo ele — e das medidas que reduzem direitos.
O fato de a manifestação não ter reunido uma multidão — algo em torno de mil pessoas — não preocupou o servidor. “O ato foi vibrante”, disse, confiante que a campanha salarial pela data-base, paridade salarial entre ativos e aposentados e reposição das perdas ganhará corpo esse ano – a próxima atividade será uma jornada de manifestações de 7 a 9 de abril, em Brasília. (informações do Luta Fenajufe Notícias)