[Sérgio Domingues*] Entre as muitas análises interessantes sobre os chamados “rolezinhos”, está o artigo “O Brasil ainda está longe de ser um país de classe média”, de Gustavo Andrey Fernandes, publicada no Valor em 17/01.
Fernandes diz que o preconceito contra a presença massiva de jovens pobres nos shoppings vem do perfil elitista desse tipo de varejo. Segundo ele, os empresários preferem vender pouco e caro a aumentar a quantidade e perder clientes ricos:
Naturalmente, esse fenômeno somente é possível dado um baixo nível de competição da economia brasileira, fruto da desigualdade social e do baixo nível de renda, o que permite sustentar preços elevados a um público que tolera pagar valores mais altos para consumir status.
Já o artigo “Pra onde vão os rolezinhos”, de Bruno Cava, compara estes eventos ao protesto realizado em agosto de 2000 no shopping carioca Rio Sul. Naquela ocasião, dezenas de sem-tetos entraram naquele centro de compras, causando reações negativas. Mas Cava alerta para as mudanças ocorridas desde então graças à ampliação do consumo proporcionado pelo lulismo. Em 2000:
… os pobres levam pão com mortadela para conseguir almoçar na praça de alimentação. Hoje, os jovens ocupam o Mac Donald´s. Entram nas lojas e não apenas apalpam a mercadoria: compram.
O texto publicado no blog “Quadrados Loucos”, em 15/01, destaca outro elemento importante. “Em 2014, o que aparece são corpos talhados com roupas de marca, cordões e relógios dourados, alegremente cantando funk”.
Quem diria! A estupidez das elites transformou o funk ostentação em funk contestação. E a repressão dos governos ainda pode transformar muitos jovens consumistas em novos ativistas.
*Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação.