[Sérgio Domingues*] Em 15/03, reportagem de Nice de Paula publicada Globo dizia que “Nova classe média é fenômeno mundial”. É o que se deduz de um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Os dados mostrariam que o fenômeno ocorre não só no Brasil. Estaria presente também na China, Índia, África do Sul, Turquia, Bangladesh, Chile, Gana, Ilhas Maurício, Ruanda, Tunísia, entre outros.
Há quem discorde. É o caso de Celia Lessa Kerstenetzky, diretora do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento da Universidade Federal Fluminense. Para ela, trata-se de um “movimento de inclusão por meio do consumo, relacionado ao crescimento econômico mais rápido em vários desses países”. Mas em muitos casos, diz ela:
“O mercado de trabalho é precário, a proteção social é incipiente e o acesso a serviços sociais essenciais é muito limitado. Acho equivocado falarmos em classe média no sentido sociológico do termo. Além disso, tem havido um aumento das desigualdades em muitos desses países”.
Jessé José Freire de Souza, diretor do Centro de Pesquisa sobre Desigualdade da Universidade Federal de Juiz de Fora, concorda: “O que tem surgido é uma nova classe trabalhadora precarizada, que vai ser utilizada nas áreas de serviço, comércio e pequenas indústrias do Brasil e dos países emergentes do mundo inteiro. Por que neles? Porque você não convence um francês ou um alemão que trabalha sete horas por dia de que ele terá que trabalhar 14 horas…”.
Deve ser por isso que reportagem publicada no Valor em 12/03 afirmava “Morador de favela não se vê como classe média”. Ser pobre é uma coisa, ser cego é outra.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)