A Polícia Militar do Rio de Janeiro está no topo do ranking da extorsão policial no país. Do total de pessoas achacadas por policiais militares, 30,2% são do estado. O dado faz parte da Pesquisa Nacional de Vitimização, encomendada pelo Ministério da Justiça e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento ao instituto Datafolha, e obtida com exclusividade pelo EXTRA. Segundo o levantamento, o estado tem mais vítimas desse crime do que todos os demais estados da Região Sudeste somados, inclusive São Paulo, que tem a maior população e a maior corporação militar do país. A PM de São Paulo aparece em segundo lugar na pesquisa.
— Essa pesquisa mostrou, de fato, que a PM do Rio é a mais corrupta no país. Mas acho que a gente deve entender que o policial é recrutado na nossa sociedade, é um retrato dela — defendeu a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki.
Embora alheios aos números, o jovem Y. e dois amigos, todos moradores de Macaé, no Norte Fluminense, entendem bem do assunto. Em 18 de abril de 2009, os três saíam de uma pizzaria quando perceberam que um pneu do carro estava furado. Pararam o veículo e foram surpreendidos por policiais militares. O trio foi revistado e apresentou o documento do automóvel. Não havia irregularidades.
Ainda assim, os militares exigiram um pedágio — este foi o termo usado — de R$ 300. Nenhum dos três tinha a quantia pedida. O tapa na cara que o sargento Marcelo Barbosa Rocha deu em Y. inaugurou uma série de ameaças e extorsões de que o grupo seria vítima e só punidas há duas semanas, com a condenação de dois policiais.
— Os policiais foram a diversos morros tentar vender o carro, com eles dentro da viatura. Depois de três horas e meia, meu filho conseguiu me ligar, contar tudo e se esconder com os amigos atrás de uma casa. Agora, após quatro anos, o sargento e o soldado Gino Gardoni de Souza foram condenados a sete anos e dois meses por extorsão mediante sequestro. Achei baixa a pena, mas a Justiça se pronunciou a favor das vítimas. Isso serve de exemplo para a tropa inteira — diz o advogado Dilermando Cavalcanti de Oliveira, pai da vítima.
A Pesquisa Nacional de Vitimização também procurou saber a extensão do problema nas polícias civis Brasil afora. A Polícia Civil de São Paulo lidera, com 28,6% das pessoas que disseram ter sido achacadas, seguida pela do Rio, com 17,2%.
A PESQUISA — A Pesquisa Nacional de Vitimização é um estudo que procura captar as ocorrências de eventos criminais na população, com o objetivo de compará-los com os dados oficiais registrados pelas polícias, classificando-os por localidade, estrato social, cor da pele, idade, sexo e renda. A amostra da pesquisa foi de 78.000 pessoas e vem sendo preparada desde 2010. No estado do Rio, foram 8.550 entrevistas. Os dados são uma prévia: a íntegra do estudo será divulgada daqui a um mês.
O QUE DIZ A POLÍCIA — A Polícia Militar afirmou, por meio de nota, que tem sido rigorosa a ponto de, em 2012, ter “quebrado o recorde histórico de policiais excluídos em 203 anos de história da corporação: 312 policiais foram expulsos”. A corporação afirmou ainda que a pesquisa é “um sinal de que este rigor é o que a sociedade deseja e precisa”.
Já a Polícia Civil, em nota, afirmou que a Corregedoria Interna “atua com severidade e transparência para punir qualquer tipo de desvio de conduta de autoridades policiais e agentes”. A instituição afirmou estar investindo em agilizar os processos internos e citou prisões recentes de delegados, inspetores e peritos acusados de envolvimento em extorsão e outros crimes. (informações do jornal O Extra)