A BOMBA-RELÓGIO DO DÓLAR
[Sérgio Domigues*] Os economistas não falam de outra coisa. O dólar não para de baixar e assusta. Dizem que uma nova bolha pode estourar a qualquer momento. É deve ser no próximo governo.
Parece que o problema é o seguinte. A crise que estourou em 2008 é resultado da crise de 2000, em que quebraram empresas como a Enron. Para impedir uma recessão, o banco central americano baixou os juros. Com isso as compras a crédito dispararam. Principalmente, no mercado de imóveis. O mesmo que viria a quebrar em 2008, arrastando meio mundo.
Para sair dessa nova crise, o governo americano desvalorizou o dólar para que seus produtos ficassem mais baratos no mercado mundial. Só que o Estado chinês acompanhou o movimento americano. Não deixou que sua moeda se valorizasse frente ao dólar. O resultado é uma enxurrada de produtos americanos e chineses na economia do planeta.
Com a Europa em crise, é muito duvidoso que haja consumo suficiente para tanta oferta. Pode haver uma nova rodada de quebradeiras e falências.
Enquanto isso, houve uma inundação de dólares na economia brasileira. O resultado foi aumento das importações. O que vem levando à diminuição da produção interna. Menos produção, menos empregos. Menos empregos, difícil manter o elevado consumo das famílias brasileiras.
Pra piorar, pagamos os maiores juros do mundo. Investidores estrangeiros trocam seus dólares fracos pelos generosos títulos da enorme dívida interna brasileira. É por isso que o governo faz de tudo para valorizar o dólar e não consegue. Está enxugando gelo.
Se tivéssemos rompido com a dependência do dólar criada pelo Plano Real, talvez a história fosse outra.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação