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Opinião

UZALEMÃO, UZERÓI E OS OTÁRIOS

[Sérgio Domingues*] Os traficantes de drogas no Rio de Janeiro costumam chamar seus inimigos de “alemão”. Dizem que o costume vem dos filmes de guerra americanos, em que os vilões eram sempre os soldados alemães.

Os garotos das comunidades pobres cariocas assistiam à TV. Depois, brincavam de tiroteio pelas ruelas. De um lado, “uzalemão”. Do outro, “uzerói”. Eram John Wayne, Robert Mitchun, Gregory Peck. Depois, Stallone, Schwarzenegger, Bruce Willis. Mais recentemente, é o capitão Nascimento.

A TV também ensinou que para conquistar o respeito nada como roupas bonitas, tênis de marca e uma arma na cintura. O caminho mais curto para conquistar tudo isso não era a escola. Muito menos um emprego. Coisa pra otários como seus pais, que trabalhavam muito por uma miséria e ainda eram humilhados por seus patrões brancos.

O comércio ilegal de drogas era a resposta. Ofício bem pago, com direito a esculachar uns playboys de vez em quando. Eles até sabiam que sua vida seria curta. Mas, antes viver pouco como herói, que muito sendo otário. Poucos desses traficantes se deram conta de que também fazem papel de otário. A parte do leão desse comércio lucrativo fica bem longe de suas mansões improvisadas no meio dos morros.

Toda essa lógica serve para justificar a uma política de segurança pública na base do bangue-bangue. Milhões assistem pela TV a execução e prisão de gente pobre e negra. Vibram como se assistissem a filmes de ação. Multidões de otários ligados nos telejornais, vendo os heróis massacrando outros otários. Muitos deles, seus próprios vizinhos e parentes. Os verdadeiros alemães sorriem, confortáveis em seus gabinetes e escritórios.

* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)

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