[Sérgio Domingues*] Há quem diga que o governo Dilma ficou aliviado com as manifestações contra a Copa realizadas em 15 de maio. Para os ocupantes do Planalto a adesão aos protestos foi baixa. E teriam contado com participação maior de setores sindicais, avessos a “atos violentos” e voltados para suas próprias reivindicações.
Se isso é verdade, o governo pode estar incorrendo em sério erro de avaliação. Desde a segunda metade dos anos 1990, despencou o número de greves no Brasil. Em 2010, foram 446. Em 2012, 554. Muito menos que as 1.228 de 1996. Mas, a partir de 2012, as greves voltaram com força total, chegando a 873.
Ninguém esperava que acontecessem as grandes manifestações de junho de 2013. Mas elas foram antecedidas e alimentadas exatamente por essas inúmeras lutas menores e setoriais. E já em 2014, a vitoriosa greve dos garis cariocas mostrou que a temperatura das lutas classistas continua elevada.
Na grande maioria das vezes, a violência nas manifestações é provocada pela polícia. O principal pretexto é a desobstrução de ruas e avenidas. O problema é que mobilizações sindicais também ocupam vias urbanas. Além disso, os trabalhadores sabem que seu poder de pressão aumenta durante grandes eventos. Daí, as inúmeras greves nas obras dos estádios, por exemplo.
Ainda que não sejam tão grandes como foram em junho, muitas manifestações acontecerão durante a Copa. Um poderoso aparato militar as espera. Boa parte dele subordinado a autoridades federais. Com a vergonhosa exceção do movimento indígena, os governos petistas ainda não foram responsáveis diretos pela repressão aos movimentos sociais. Agora, isso pode mudar.
Era só o que faltava. Literalmente.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).