[Sérgio Domingues*] Há 50 anos, morria assassinado Malcolm X. O grande líder antirracista costuma ser lembrado por suas frases. Uma delas, serviria perfeitamente à situação dos pretos no Brasil, vítimas preferenciais da repressão estatal:
“Se você vive numa sociedade supostamente baseada na lei e ela infringe a sua própria lei porque a cor de uma pessoa é considerada errada, então este povo está justificado a agir por qualquer meio necessário para realizar a justiça que seu governo não oferece.”
Mas sua luta não se limitava à defesa da resistência popular, radical e justa. Nascido Malcolm Little, substituiu o sobrenome imposto pelos antigos escravizadores de seus antepassados pelo X. Sua família passaria a ser formada pelos companheiros no combate ao racismo.
Criança abandonada, entrou cedo para o crime. Jovem, envolveu-se com tráfico e consumo de drogas. Condenado, transformou a experiência da prisão em emancipação pessoal. Aderiu a uma versão fanática do islamismo e ao ódio contra os brancos para abandonar ambos.
Pouco antes de morrer, suas posturas já se mostravam fortemente inclinadas para a denúncia do caráter classista e imperialista do racismo. Passou a ver a emancipação de toda a humanidade como condição para a libertação de seu povo.
Esta trajetória transformou alguém condenado a apodrecer nos porões da sociedade num combatente pela liberdade humana. Por isso, a frase que, talvez, resuma melhor a luta de Malcolm X seja:
“As únicas pessoas que realmente mudaram a história foram as que mudaram o pensamento dos homens a respeito de si mesmos.”
O grande objetivo de Malcolm X era livrar a si mesmo e outros explorados e oprimidos da escuridão conservadora.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).