[Sérgio Domingues*] Adirley Queirós acaba de receber o prêmio de melhor longa-metragem no Festival de Brasília. O título de seu filme é “Branco sai. Preto fica!”. Inspira-se na ordem dada pela polícia ao invadir um baile Black em Ceilândia, cidade satélite de Brasília, em 1986.
Permaneceram somente os negros no recinto. O objetivo era encontrar um suposto criminoso. Na confusão que se seguiu, a polícia distribuiu tiros e pancadas. Vários frequentadores ficaram feridos. Um deles acabou em uma cadeira de rodas. Outro perdeu uma perna. Ambos atuam no filme premiado.
Em 22/9, o diretor deu uma entrevista ao portal R7. Descreveu sua produção como um “filme de vingança. Um ato de terrorismo”. Queirós diz que sua obra pretende “explodir tudo, inclusive a gente. Se não há diálogo, o terrorismo surge”.
Trata-se de uma obra de ficção científica, mas está firmemente ancorada em um passado racista que sempre se fez presente. Não desde 1986, mas há muitos séculos.
Brasília não é a cidade mais injusta do País. Mas certamente é um dos lugares em que nosso apartheid social é mais escancarado. Algo que a arquitetura hostil às multidões só reforça. Por isso, Queirós propõe construir na Capital Federal:
“… um setor de domésticas norte e um setor de vigias sul. Está tudo muito vazio. Deveria se construir umas casas para o povo não precisar ir até a rodoviária e pegar depois duas horas de trânsito para chegar nas cidades satélites.”
No Plano Piloto de Brasília, assim como em outros centros urbanos privilegiados, depois da hora do trabalho, os pretos é que saem.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).