[Sérgio Domingues*] Em 22/03, muita gente acompanhou ao vivo e em cores a violência com que foi tratado um grupo de indígenas na Aldeia Maracanã, na capital carioca. O Batalhão de Choque invadiu o antigo Museu do Índio com a orientação de sempre: se o problema é povo revoltado, pode baixar a porrada.
As cenas são de uma covardia óbvia. Mas a grande imprensa teimou em culpar a intransigência dos índios pelo episódio vergonhoso. Só admitiu “ouvir o outro lado” quando seus profissionais também passaram a ser agredidos. Mesmo assim, timidamente.
O que aconteceu no Maracanã trouxe para o meio de uma cidade grande aquilo que acontece com muito mais frequência e silêncio nos sertões do País: o uso das forças de segurança para assegurar os negócios de empresários bilionários. E a cumplicidade das autoridades diante dos massacres cometidos por jagunços.
Os indígenas sofrem um racismo diferente. Os negros devem se comportar como brancos porque ficou estabelecido que não há discriminação de cor no País. Já os indígenas, precisam reafirmar sua condição o tempo todo. Devem parecer típicos, pitorescos, diferentes. Ficar longe da tecnologia e dos costumes de origem branco-europeia.
O que não faltam são declarações oficiais reconhecendo que os índios formam o povo original das terras americanas. Mas isso não leva a qualquer respeito por suas terras e tradições. Os grandes empreendimentos capitalistas e os governos governados por eles só aceitam os indígenas como peça de antiguidade. Nos museus, sim, mas embalsamados.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)