[Sérgio Domingues*] A liberdade sexual volta ao centro dos debates nas eleições presidenciais. Mais especificamente, pela decisão de Marina Silva de retirar de seu programa a defesa do casamento gay.
O recuo deveu-se a pressões de lideranças cristãs que condenam o homoerotismo com base em passagens da Bíblia. Uma das mais lembradas envolve Sodoma e Gomorra, destruídas por Deus porque seus moradores seriam adeptos do amor homossexual. Daí, o termo “sodomia”.
O trecho mais lembrado está em Gênesis (19:5). Descreve o modo como homens que visitavam Ló foram tratados pelos moradores de Sodoma. Eles teriam exigido: “Traze-os a nós para que os conheçamos.”
A expressão “conhecer”, na Bíblia, é muito utilizada como sinônimo de relação sexual. Há quem negue que o termo tenha sido utilizado nesse sentido na passagem em questão. Mas mesmo que assim fosse, ainda é possível enxergar a falta de hospitalidade como o grande pecado dos sodomitas.
Em Ezequiel (16:49), Sodoma é condenada por nunca ter amparado “o pobre e o necessitado”, por exemplo. Já em Mateus (10:13/15), Jesus teria advertido contra o pecado da falta de hospitalidade, dizendo:
“… se alguém não vos receber, nem der ouvidos às vossas palavras, assim que sairdes daquela casa ou cidade, sacudi a poeira dos vossos pés. Com toda a certeza vos afirmo que haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra, no dia do Juízo, do que para aquelas pessoas.”
Ou seja, há muitas maneiras de interpretar textos tidos como sagrados. As escolhas dizem mais sobre os intérpretes do que sobre o objeto interpretado. No caso de Marina e seus aliados religiosos, melhor sacudi-los de nossos pés.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).