[Sérgio Domingues*] Em 20/02, Luis Fernando Veríssimo publicou a crônica “O alarme” em O Globo. Ele cita o filme de Stanley Kubrick “2001 — Uma odisseia no espaço”. Lembra que a produção baseia-se no conto de Arthur C. Clarke “O sentinela”.
Na obra de Clarke, o monólito negro que é descoberto enterrado na Lua é uma espécie de alarme. Uma vez localizado, dispara um sinal para seus criadores extraterrestres. Esse sinal indicaria que a raça humana finalmente havia alcançado o desenvolvimento tecnológico necessário para alcançar as estrelas.
Veríssimo utiliza essa ideia para especular sobre os destinos da humanidade. Os eventos cada vez mais violentos, as crises crescentemente agudas, as catástrofes aparentemente mais numerosas. Antes disso, o fascismo, o nazismo, as bomba atômicas.
Tudo isso não indicaria que já passamos do momento em que um alarme já deveria ter soado, pergunta o cronista. “Quando chegará o momento, diz ele, que nos convencerá que isto aqui não tem jeito mesmo, e a procurar uma saída? Será que o momento já veio e já foi, e nós não notamos?”.
Difícil saber. Mas uma ou outra notícia pode aliviar o peso dessa dúvida. Uma delas apareceu nos jornais em 21/02: “Bebê inconsciente é salvo durante engarrafamento nos EUA”. Trata-se de uma mulher que deixou o filho de três anos em seu automóvel para fazer respiração boca a boca em um bebê de cinco meses que parara de respirar.
É uma notícia simples e delicada demais para fazer frente às outras inúmeras, brutais e complicadas. Mas nos dá a esperança de que existam outros tipos de alarme. Precisamos ficar atentos a eles também.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).