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OPINIÃO: OS PRODUTORES DE NOTÍCIAS

[Sérgio Domingues*] “É um erro pensar que um jornal é editado para fazer jornalismo. Na verdade, ele é editado para publicar publicidade. O jornalismo é o recheio do entorno dos anúncios. O papel dos jornalistas é subalterno e sua função primordial é proporcionar a melhor tiragem para obter a venda mais fácil e o melhor preço do espaço publicitário no jornal.”

Estas palavras foram ditas por Janio de Freitas no mais recente documentário de Jorge Furtado. A excelente produção traz entrevistas com vários jornalistas importantes. Ao lado do próprio Janio, estão Mino Carta, Raimundo Pereira, Geneton Moraes, Bob Fernandes e muitos outros. Além disso, o filme intercala os depoimentos com trechos da peça teatral do dramaturgo inglês Ben Jonson, “O Mercado de Notícias”, que dá nome ao filme.

Na peça de Jonson, o personagem principal é Dona Pecúnia. É para conquistá-la que os mercadores de notícia se desdobram em seu ofício. Mas quem poderia mostrar quais são os meios para seduzi-la é outra personagem, que não aparece na obra teatral, nem no filme de Furtado. Trata-se de Dona Hegemonia. É ela que sabe quais os ingredientes capazes de obter o produto que torna possível conquistar a “melhor tiragem”. Trata-se da credibilidade.

A credibilidade trabalha com as crenças, costumes, hábitos, preconceitos, medos e outros elementos do senso comum. Tais ingredientes devem ser organizados de modo a justificar a ordem social em que vivemos. Mesmo sendo injusta, violenta e opressora, ela deve ser aceita e elogiada. Esta é a mercadoria da linha de produção em que trabalham os jornalistas a serviço de Dona Pecúnia e sob orientação de Dona Hegemonia.

* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).

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