Mesmo com dificuldades, servidores sem pagamento tentam ajudar os colegas. Com esse problema fica difícil manter uma comida em casa, conta um dos funcionários públicos
Servidores estaduais com salários atrasados enfrentam fila para receber doações
Mesmo com chuva e a previsão de registrar o dia mais frio do ano nesta quarta-feira (19), centenas de servidores estaduais encararam uma fila no Centro em busca de uma das cestas básicas que estão sendo doadas pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais do RJ (Muspe). O local de doação foi o endereço da Coligação dos Policiais Civis (Colpol). O frio e o desconforto foram superados pela necessidade de colocar comida na mesa. Alguns servidores estão sem salário há 3 meses, além da falta de pagamento do 13º salário de 2016. Ainda assim, mesmo com dificuldades graves em casa, muitos se organizam para ajudar os colegas.
Mais do que o frio, a vergonha domina alguns dos servidores estaduais que, após trabalhar por uma vida, agora dependem da ajuda de colegas e pessoas que não conhecem.
“Se hoje tivesse que fazer algum concurso para ser funcionário estadual, com esse governo que nós temos, preferia vender bala e doces do que ser funcionário público estadual”, explicou Carlos Alberto Pereira, que completará 35 anos como servidor estadual neste mês de julho.
Cardíaco e com a esposa sofrendo do mal de Alzheimer, ele considera a doação da cesta básica um “alívio” que não o obriga a ter que escolher entre comprar medicamentos ou comida.
“Com esse problema fica difícil manter uma comida em casa”, explicou Pereira.
Para Rosa Maria Rosa, servidora aposentada que trabalhou por 26 anos na rede estadual de saúde, a decepção é dupla. Aos 62 anos, nunca imaginou que precisaria da cesta básica, ao mesmo tempo que vê o hospital onde trabalhou, o Pedro Ernesto, passar de referencia para unidade em dificuldades por causa da falta de verbas.
“Nunca imaginei que ia acontecer isso comigo”, diz Rosa. Mesmo com a ajuda da família, a cesta doada pelo Muspe durará até 15 dias.
Cada uma das cestas conta com arroz, feijão, macarrão, farinha de mandioca, açúcar, farinha de trigo, leite em pó, café, óleo, achocolatado, maionese, refresco, molho de tomate e mistura para bolo.
A demanda por estas básicas – foram doadas 400 só esta quarta (19) – ainda não são suficientes. Os servidores precisam de mais doações, principalmente de leite em pó e de artigos de higiene pessoal.
Ajuda mesmo na crise pessoal
Professora da rede estadual por mais de 25 anos, Célia Maria Passarelli é mais uma que afirma que nunca imaginou passar pelas dificuldades que enfrenta atualmente. Ainda assim, ela tira forças para ajudar os colegas a montar as cestas básicas.
“Estou como voluntária, ajudando na campanha porque precisa ter solidariedade com o nosso povo que está aí, sofrendo. E tem muitas pessoas que estão aí, com as contas muito atrasadas, devendo ao banco e a vários lugares”, explicou a professora.
Para ela, está acontecendo uma inversão de valores.
“A gente quando trabalha sonha com o futuro da aposentadoria, ficar em casa com os familiares, fazer um passeio. Mas a gente está no sofrimento”, destacou Passarelli.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro (Sindpol), Márcio Garcia, ressalta que as cestas são um paliativo. Mesmo assim, ele se impressiona com o senso de solidariedade.
“Os servidores da segurança estão em uma situação um pouco mais confortável, mas ainda assim com o 13º atrasado. Isso não se compara com aqueles que estão com 3 meses de salários atrasados e, por isso, estão aqui recebendo a nossa solidariedade”, destacou Garcia.
SERVIÇO:
Para doar alimentos não perecíveis (arroz, feijão, macarrão, farinha, fubá, sal, açúcar, leite em pó) basta entregar os itens, de segunda a sexta-feira, nos seguintes endereços no Centro do Rio: Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), na rua Evaristo da Veiga 55, 7º andar; na Coligação dos Policiais Civis (Colpol), na Rua Sete de Setembro 141, 2º andar; no Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário (Sind-Justiça), na Travessa do Paço 23, 13º andar e também na Universidade do Estadual do Norte Fluminense (Uenf), na Avenida Alberto Lamego 2.000, no Parque Califórnia, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
FONTE: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/servidores-do-rj-sofrem-por-dependerem-de-doacoes-mas-ainda-tentam-ajudar-os-colegas.ghtml