STJ ASSUMIRÁ CASO DOS FALSOS E-MAILS NO RIO
A juíza Simone de Faria Ferraz, da 14ª Vara Criminal da Capital, enviou ontem (18) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o relatório do inquérito que investigou a distribuição, em abril, de falsas mensagens eletrônicas para os desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio, em nome do repórter Chico Otavio, do Globo. A medida foi tomada depois que o técnico de informática Thiago da Silva, funcionário de uma empresa que presta serviços ao TJ, confessou à polícia ter cometido a fraude a pedido do desembargador Roberto Wider, corregedor-geral de Justiça do Rio, afastado do cargo em janeiro pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Wider, que tem direito a foro privilegiado, nega o envolvimento no crime.
Cópia do inquérito também foi enviada para o presidente do TJ, desembargador Luiz Zveiter. Ele anunciou ontem que levará o caso ao Órgão Especial do Tribunal, que tem poderes, conferidos pela Lei Orgânica da Magistratura, para agir no âmbito administrativo. O caso será distribuído a um relator e poderá ser transformado em processo disciplinar contra Wider. Zveiter considerou grave a conclusão do inquérito: “A questão é grave porque revelou que pessoas tentaram denegrir a minha imagem e constranger o trabalho da mídia. Mas vamos agora aguardar. Confio no STJ e no Órgão Especial”.
Para o presidente do TJ, a investigação feita pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática do Rio produziu dois alertas: “Aqueles que tentarem, por meio de prática criminosa, atacar ou desacreditar jornalistas, ferindo com isso a liberdade de imprensa, terão sempre a sua autoria descoberta. Da mesma forma, a polícia irá apurar a responsabilidade daqueles também que tentarem, como ocorreu, denegrir a minha honra, como a de qualquer outra pessoa”.
Wider foi afastado após reportagens
Em depoimento à polícia, o técnico de informática Thiago da Silva contou que o objetivo da fraude era “desvalorizar a credibilidade do jornalista”.
A mensagem, repassada a partir do falso e-mail “chicootaviooglobo@gmail.com”, conclamava os desembargadores do TJ, com a “garantia do sigilo de fonte”, a contribuir para uma suposta série de reportagens do jornal que teria como alvo Luiz Zveiter. Para a delegada Helen Sardenberg, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, responsável pela investigação, a intenção da mensagem era exibir um suposto apetite denuncista do repórter e indispô-lo com a magistratura.
Em novembro do ano passado, O Globo publicou uma série de reportagens que ligavam Wider ao lobista Eduardo Raschkovsky, acusado por políticos, advogados e empresários de vender sentenças judiciais. Ao afastar Wider, em 26 de janeiro, o CNJ, em decisão unânime, abriu um processo administrativo disciplinar.
Para chegar ao técnico de informática, a polícia quebrou sigilos eletrônicos, fez interceptação telefônica e descobriu que Thiago fornecera nome e endereço falsos para comprar o chip usado para se conectar à internet. Seu paradeiro só foi descoberto depois que o técnico usou o mesmo chip, instalado em seu telefone celular, para fazer ligações. O aparelho estava grampeado.
Roberto Wider considerou a investigação uma “absoluta mentira”. Ele negou ter ordenado a criação da falsa conta de e-mail, e disse que o técnico foi coagido durante o depoimento. Segundo Wider, Thiago, após ter sido pressionado a fazer a confissão, iria agora esclarecer o caso à Corregedoria ou à Ouvidoria de Polícia, na companhia de um advogado. Até ontem, porém, a Polícia Civil não havia registrado essa iniciativa.
A delegada Helen Sardenberg disse, se for necessário, poderá apresentar a gravação de imagens da delegacia, assim como áudios dos depoimentos de Thiago, para provar que o procedimento aconteceu de forma regular. (O Globo, edição de 19/05/10)