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Dieese analisa pacotes do Governo Federal e políticas sugeridas pela CNI para enfrentar a crise do Coronavírus: “insuficientes”

Jair Bolsonaro, na noite de terça-feira (24), estarreceu o mundo inteiro. Com o delirante pronunciamento em rede nacional do presidente da República, o único recado que fica é que não há mais condição alguma de ele manter-se como presidente do Brasil.

Na contramão de líderes mundiais, epidemiologistas renomados, médicos e a maior parte de especialistas de todo o mundo, nosso atual presidente conclamou os brasileiros a voltarem a viver “normalmente”, como se o Coronavírus Covid-19 não fosse uma doença de fácil contágio e capacidade letal não desprezível.

Em seu pronunciamento, contra as evidências e desprezando a comoção mundial causada pela pandemia, voltou a chamar a os efeitos do Covid 19 de “gripezinha”, pediu para que as pessoas voltassem ao trabalho e que as crianças retornassem à escola. Isso não é só uma irresponsabilidade, é um atentado contra a saúde pública e contra a vida das pessoas.

Para piorar, ele manteve sua postura antiestadista ao longo de toda a semana.

Em um país em que muitas crianças e adolescentes convivem com adultos com mais de 60 anos, isso seria uma sandice. Os mais jovens, muitas vezes, são assintomáticos (apesar de não se mostrarem totalmente imunes às complicações), porém a infecção é devastadora para os idosos e pessoas com doenças pré-existentes. Mas a proposta do governo não está atenta a esta característica, por preocupação excessiva com a bolsa de valores e pouca preocupação com seus concidadãos, de qualquer idade e condição social.

O presidente, que vinha estimulando atos públicos contra as instituições democráticas, tem, agora, sabotado as medidas preventivas de governadores e prefeitos tornando-se, ele mesmo, um risco para a saúde pública e para a população do país que deveria proteger: Bolsonaro ignora até os avisos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que alertou, em documento interno, a previsão de milhares mortes nos próximos 15 dias por causa da pandemia.

A falta de decoro no cargo não é novidade, mas ele ultrapassou todos os limites. Ao transmitir suas ideias pouco embasadas, trouxe insegurança à sociedade, aprofundando sua divisão e dificultando a ação daqueles que procuravam uma estratégia adequada para conter a pandemia.

Fez uma aposta política altíssima: se as medidas de contenção (que ele insiste em contrariar) derem certo e os brasileiros conseguirem evitar o pior cenário, ele usará o argumento de que a crise foi apenas uma “histeria” criada pela mídia. Além disso, ele sabe que os impactos na economia serão devastadores e usaria essa crise como desculpas para o fracasso de seu governo nessa área (afinal, esta é justamente uma área em que o governo tem demonstrado profunda inabilidade ao longo de sua fraca gestão).

Porém, se a aposta de Bolsonaro der errado? Milhares (ou dezenas de milhares) de brasileiros morrerão.

O presidente da República usou como moeda nessa aposta a vida do povo de seu próprio país. Isso é inadmissível.

Para ele, vidas não importam tanto. Está preocupado com a economia, mas não tem mais controle sobre as artimanhas de seu Ministério da Economia, que age sob o comando externo dos grandes investidores em bolsa de valores. Bolsonaro já não comanda o país.

Um país tão desigual como o nosso não pode esquecer que os sempre privilegiados devem estar na linha de frente desses cortes. Ter como prioridade o equilíbrio fiscal é desumano. A preocupação do governo não é gastar com os pobres, pois tenta ignorar propostas de renda mínima, já implementadas por           vários países pelo mundo, como forma de garantir a existência das pessoas. Ao contrário, a ajuda é discreta e muito mais generosamente destinada aos bancos.

O Brasil precisa de ações coordenadas para vencer a pandemia, porém Bolsonaro é desagregador e sua condição de governabilidade está se esfacelando dia a dia. O Exército já não confia em seu líder máximo, governadores de mesmo espectro político já romperam com ele e agora o atacam devido à sua tibieza e ignorância da realidade. Cresce o número de parlamentares de sua base que o estão evitando, eleitores influentes que lhe confiaram o voto se manifestam arrependidos e a população bolsonarista está atônita e agônica.

O Brasil não aguenta mais a necropolítica de Paulo Guedes, cujo objetivo velado parece ser uma esterilização da pobreza pela eliminação ou marginalização máxima da população pobre. Não aguenta mais o “Gabinete do Ódio”, uma quadrilha de falsificação da verdade paga com dinheiro público e alocada ao lado do gabinete presidencial.

Bolsonaro atenta contra a União e atenta contra a Saúde, e assim comete crimes de responsabilidade que precisam ser coibidos e punidos pelo Congresso e pelo STF.

Ele insiste em repetir o erro de países que trataram o começo da pandemia sem o devido cuidado, como a Itália, que agora precisa escolher quem terá chance de sobreviver, ou a Espanha, que precisa empilhar cadáveres em pistas de patinação de gelo por falta de espaço para tantos mortos. Desconsidera, inclusive, a Inglaterra, que reviu rapidamente esta política e solicitou a quarentena de seus cidadãos.

Se em 2019, mesmo o Brasil não convivendo com a pandemia do Coronavírus, o governo já havia demonstrado erros que levaram, inclusive, seus apoiadores à interpretação da incapacidade de gestão de um governo levado pelo ódio. Agora, com a crise se avizinhando, certamente esse mesmo governo não terá nenhuma condição de tirar o país do abismo que restará ao final dessa situação.

Seria Bolsonaro capaz de seu único gesto de grandeza possível?

O Brasil precisa de um governante que pense primeiro nas pessoas e que entenda a responsabilidade que é ser presidente de uma nação em momento de desafio e de ponto de inflexão da sociedade.

Jair Messias Bolsonaro provou que não é capaz disso, e somente sua renúncia pode recolocar o Brasil na sua rota civilizacional normal, para que passemos a crise com os menores impactos possíveis tanto no sentido humano como econômico.

Fonte: APUFPR

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