PAPAI NOEL NÃO É DE ESQUERDA, MAS EXISTE!
[Sérgio Domingues*] Antes de sair voando por aí em seu trenó, Papai Noel era apenas São Nicolau. Santo e filho de pais ricos, acabou com sua herança distribuindo dinheiro aos pobres e presenteando crianças de famílias sem posses. Com o tempo transformou-se no Papai Noel.
Em 1931, a Coca-Cola tornou Papai Noel uma figura totalmente humana. Até a cor vermelha foi escolhida para combinar com os logotipos da empresa. Mas, não adianta só questionar a origem mercantil da gorda figura vermelha. O problema é saber o que leva pessoas de todas as idades a precisar do mundo do faz de conta.
Todos os povos, em todos os lugares sempre precisaram dessa dimensão fantasiosa. Principalmente, em sua função pedagógica junto às crianças. São formas de introduzir os pequenos aos problemas da vida usando imagens claras e situações atraentes.
A indústria transforma essa necessidade em pacotes quantificáveis. A deliciosa experiência de ouvir ou de contar contos de fada passa a ser acompanhada pela necessidade de comprar os brinquedos, jogos e filmes a ele correspondentes. Ao “era uma vez…”, as crianças respondem cada vez mais com “compra pra mim”.
A esquerda tem que se dedicar a esse aspecto da luta ideológica. Ouvir pedagogos, psicólogos, especialistas. Ouvir principalmente o próprio povo. Recuperar a história oral, prestar atenção à literatura de cordel e outras manifestações da narrativa popular. Criar um ambiente cultural menos marcado pela escravidão material a que o capitalismo nos condena.
Mas, até para fazermos isso sem perigo de produzir ou reproduzir esquemas de dominação, é preciso dar asas à imaginação.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)