CRISE: W PARA OS PATRÕES, L PARA OS TRABALHADORES
[Sérgio Domingues*] Quando a crise capitalista começou, em 2008, os especialistas discutiam se sua trajetória seria em W ou em L. Ela seria em W, se a queda na economia fosse seguida de uma recuperação. Num gráfico, as setas formariam a primeira e a segunda perna de um W. Depois da recuperação haveria outra queda e outra recuperação. Seriam a terceira e quarta pernas que faltam.
Em formato de L, a seta mostraria uma queda da atividade econômica, que permaneceria em baixa. Como houve uma recuperação da economia a partir de 2009, a trajetória em L foi descartada. Certo? Errado.
É o que diz o economista Rick Wolff, professor da Universidade de Massachusetts. Referindo-se à economia americana, ele mostra que a recuperação verificada entre 2009 e 2010 aconteceu apenas para os lucros das grandes empresas. Para salários, benefícios e empregos vale a seta em forma de L. Mais uma vez, os trabalhadores estão pagando a conta da crise.
Agora, vários economistas estão prevendo uma nova recessão da economia americana. É que os bilhões de dólares de ajuda governamental foram usados em muita coisa, menos na recuperação de empregos e salários. E com estes em baixa, uma economia consumista como a americana não tem como se recuperar de forma sustentável.
De qualquer maneira, o esquema W é falso. As crises capitalistas jamais deixaram as coisas como estavam antes delas. A concentração de riqueza aumenta em cima, pobreza e exploração crescem embaixo. A dúvida é sobre até que profundidade o L pode chegar. O que já está ruim para os trabalhadores pode ficar pior, com reflexos no mundo todo.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)