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OPINIÃO: RECEITA PAULISTANA NAS REMOÇÕES CARIOCAS

[Sérgio Domingues*] “Distante dos olhos” é o título da reportagem de Mariana Timóteo da Costa, publicada no Globo em 01/12. A matéria explica porque em São Paulo, diferente do Rio, as favelas ficam distantes das áreas “nobres” da cidade.

É que os pobres se tornaram um problema social no Rio muito antes do que em São Paulo, diz a matéria. A primeira favela carioca surgiu em 1897, no morro da Morro da Providência. Na capital paulistana, apenas nos anos 1940. Mas, logo, São Paulo tornou-se um polo capitalista mais dinâmico.

Nos anos 1970, investimentos imobiliários e obras de urbanização voltados para indústria e comércio foram eliminando as moradias precárias do centro paulistano. Sem morros para ocupar, os pobres foram para as periferias.

Ou seja, o que aconteceu em São Paulo foi um processo que combinou repressão estatal com expulsão econômica. A valorização dos territórios centrais da cidade inviabilizava a permanência dos mais pobres. Essa forma de remoção, muito mais eficiente, só agora está sendo utilizada pelas autoridades cariocas.

No Rio, a polícia abriu caminho para o poder econômico. A grande maioria das UPPs foi instalada na zona sul. Lugares que eram perigosos tornaram-se turísticos. O aluguel sobe e taxas que antes não eram cobradas pesam no orçamento. A situação é ideal para as empreiteiras. Podem comprar imóveis por quantias dezenas de vezes menores do que valem.

São os mecanismos de mercado empurrando os pobres para o subúrbio. Os capitalistas continuam a precisar muito deles. Mas, enquanto lucram, aproveitam para se livrar de uma intimidade que pode ser perigosa também do ponto de vista da luta de classes.

* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)

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