Estratégia do governo foi de ‘colocar o bode na sala’ para depois retirar e ganhar os votos da base aliada para a reforma trabalhista
O Palácio do Planalto, ao constatar que a reforma trabalhista seria derrotada no Senado, com o texto atual, parte na próxima terça-feira para a fase dois da estratégia para atingir o número suficiente de votos para retirar direitos dos trabalhadores: vai retirar o bode da sala. O plano, segundo analistas políticos ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil, consistiria em aprovar, na Câmara, condições mais rigorosas do que a proposta inicial do próprio governo para, em uma eventual negociação no Senado, dispor de margem suficiente para negociar com a base aliada, dividida após as críticas do líder do PMDB na Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Diante do que ficou constatado, face ao risco de uma derrota em Plenário e pressionado nas bases do PMDB, o governo do presidente de facto, Michel Temer, sinaliza que pretende negociar pontos da reforma trabalhista para que ela seja aprovada. Os senadores aliados ao governo imposto após o golpe de Estado, que completa seu primeiro ano, visam agilizar a votação e evitar que um tropeço, agora, prejudique ainda mais a análise da reforma da Previdência. Esta ainda tramita entre os deputados e deve ser votada no final deste mês.
No pacote de recuos de Temer também há possíveis mudanças na lei da terceirização que foi aprovada em março passado. Os detalhes dessas alterações ainda não vazaram para a mídia conservadora, como de costume.
Renan elogia Temer
Segundo o líder do Governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), as possibilidades de alteração do projeto da reforma trabalhista podem ocorrer nas emendas parlamentares, nos vetos presidenciais ou na edição de medidas provisórias. A base aliada tem preferido as duas últimas opções, devido à agilidade na obtenção de quorum para uma eventual aprovação. Qualquer alteração no texto aprovado pela Câmara deverá, obrigatoriamente, voltar para a análise dos deputados. Caso retorne à Câmara, ficará inviável o cumprimento dos prazos estabelecidos.
Renan Calheiros tem sido uma das vozes mais influentes no Parlamento contra a reforma trabalhista. Em seu discurso, classificou a reforma trabalhista como “injusta” e “malfeita”. Nos últimos dias, conseguiu o apoio de movimentos sindicais contrários à proposta e ouviu elogios da oposição. Na qualidade de um dos principais apoiadores do golpe de Estado, em marcha, no entanto, Calheiros participou, na terça-feira, da reunião da bancada peemedebista com Temer, no Palácio do Planalto. No encontro, derramou elogios ao mandatário. Ao término do encontro, porém, retomou o bordão de esquerda e disse que não assinou qualquer acordo com o chefe do Executivo.
Na semana passada, Renan desferiu um duro golpe na tramitação da reforma. Ele conseguiu que a proposta tramitasse naturalmente por três comissões da Casa. Vetou, assim, um pedido de urgência para que ela fosse diretamente ao plenário. A estratégia colocou em risco o calendário governista, que queria votá-la ainda na primeira quinzena de maio.
Reforma trabalhista
As comissões de Constituição e Justiça, de Assistência Social e de Assuntos Econômicos, no entanto, farão audiências públicas conjuntas. O objetivo de reduzir o tempo de discussão do assunto. Assim, até o final deste mês, o projeto poderá estar pronto para ser votado nos colegiados e, em seguida, em Plenário.
— Existe uma disposição do governo de aprovar essa matéria rapidamente. Não queremos acabar com nenhum debate, mas temos pressa em aprovar essa reforma. Ela vai ajudar o Brasil a recuperar empregos — disse Jucá.
Uma vez aprovada s reforma, acredita o governo, a taxa de desemprego do país cairá. Imagina que ficará mais fácil contratar novos trabalhadores. Países que fizeram mudanças semelhantes, porém, mostraram que de fato as taxas de desemprego diminuíram. Mas os salários reduziram e os trabalhos ficaram precários, como na Espanha. O próprio Renan citou esse caso no encontro com Temer.
FONTE: http://www.correiodobrasil.com.br/reforma-trabalhista-sera-negociada-para-evitar-nova-derrota-no-senado/