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Descuido, deboche ou má fé? Colunista faz parecer que serventuários recebem salários astronômicos

Foto: wikipedia

Em coluna publicada no domingo, no jornal O Globo, Ancelmo Gois jogou abaixo da linha da cintura em vez de praticar jornalismo e preferiu estigmatizar os serventuários do TJRJ. Com dados distorcidos do instituto IDados, Gois afirmou que “os funcionários do poder judiciário brasileiro recebiam em 2018, em média, um salário de R$ 12.774,02”.

“No afã de aparentemente seguir a linha editorial do jornal, que insiste em colocar a culpa dos problemas financeiros do estado na conta dos servidores, para proteger setores políticos e econômicos interessados no ajuste fiscal, o jornalista comete erros grosseiros”, afirmou o diretor-geral do Sindjustiça-RJ, Aurélio Lorenz.

Por descuido, os dados usados pelo colunista representam uma média de todo o Judiciário (estadual e federal), ou seja, misturando vencimentos de serventuários com o de magistrados, causando uma imensa distorção nos valores médios.

A realidade dos serventuários da Justiça do Rio de Janeiro não é nem de perto a dos magistrados de qualquer esfera, não só em relação a salário, mas também em benefícios (conhecidos como penduricalhos) e condições de trabalho.

Inicialmente, houve também falta de cuidado (seria apenas isso?) do referido instituto, porque os autores do estudo sabem (com os dados que possuem) que há um abismo imenso entre os vencimentos dos serventuários (que são os servidores do Judiciário do RJ) e o dos magistrados.

Ao combinar esses valores em uma média aritmética simples, chegaram àquele valor como se fosse parte da realidade dos serventuários. Com isso, tanto o referido instituto como o colunista jogam a opinião pública contra os serventuários, estigmatizando uma categoria que não possui penduricalhos e ainda sofre há mais de 5 anos sem reajuste, crescente assédio moral e precarização, e cuja média salarial nem de longe representa os valores apontados por ambos.

Os serventuários, assim que tiveram ciência da publicação, responderam a Gois dizendo que os dados são irreais. Em vez de se solidarizar com os funcionários, o jornalista preferiu ironizá-los e demonstrar apreço por desembargadores.

“Estatística pela média per capta de todos, incluindo os integrantes do poder, é cruel com os funcionários”, disse uma serventuária em e-mail ao colunista. E obteve a seguinte resposta: “O fato concreto é que a Assembleia do Rio aprovou uma proposta que aumenta os gastos de pessoal do Judiciário fluminense”. E ao final debochou: “Essa coisa de estatística é muitas vezes um bicho de sete cabeças. Se você colocar a cabeça de um ser humano num forno de um fogão e os pés num congelador, a temperatura média pode ser boa”.

Ora, se magistrados e serventuários fossem um só corpo, a alusão infantil apresentada pelo colunista faria sentido. Mas assim como há uma distância gigantesca entre os vencimentos de magistrados e serventuários, há um abismo imenso entre as construções históricas de cada função e, consequentemente, sua valorização.

O descuido do jornalista com as informações gera uma grande injustiça, uma vez que o projeto aprovado na Alerj no dia 19 é referente às promoções e progressões dos serventuários, mas o colunista utiliza os dados do tal instituto que misturam com os valores de salários de magistrados. Esse descuido faz parecer que os serventuários não merecem ou estão cometendo algum abuso em conseguir essa adequação na carreira. Pior, ao colocar tudo em um balaio só, tanto o instituto como o colunista fazem parecer que aqueles altos valores seriam a média salarial dos serventuários, o que nem de longe representa a realidade.

E jornalismo sério deveria trabalhar com a realidade dos fatos.

Fora isso, o referido colunista publica essas distorções mesmo sabendo que o TJRJ já comprovou que a adequação será compensada com a extinção de mais de 300 cargos que estavam vagos, ou seja, sem impacto no Regime de Recuperação Fiscal do RJ e sem riscos à sociedade.

E não adianta o colunista tentar se isentar da responsabilidade, dizendo que os dados não eram dele, porque ele mesmo optou por publicar um texto sabendo que há esse abismo imenso entre vencimentos  de servidores e magistrados e, ainda tentou insuflar os ânimos da população contra os serventuários, comparando aquela alta (e distorcida) média salarial com a média salarial da inciativa privada.

A bem da verdade é que não há novidade nesse argumento. Essa tática é usada demagogicamente com frequência pelos porta-vozes dos setores que pretendem acabar com serviços públicos, porque eles mesmos sabem que não há como comparar a função social do serviço público com a natureza da iniciativa privada.

E em sua curta obra de manipulação da realidade (incrível como um curto texto pode conter tantas deturpações), ele ainda tenta jogar os servidores do Legislativo contra os servidores do Judiciário, tentando fazer parecer que os primeiros receberiam menos da metade dos vencimentos.

É por essas e por outras (como o conhecido ataque do jornalista da Band News – devidamente respondido pelo Sindjustiça-RJ; ou a inferência às tão aludidas “férias de 60 dias de servidores”, mas que também não se aplicam no caso dos serventuários) que a velha mídia está em declínio.

Ao disputar espaço com o universo das fake news, ao invés de se distanciar para continuar sendo referência de informação, os veículos tradicionais às vezes apelam para o mesmo tipo de sensacionalismo fácil. Quem perde com isso é a narrativa da realidade.

Fonte: Sindjustiça-RJ

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