O PROBLEMA DO ENEM É O PRÓPRIO ENEM
[Sérgio Domingues*] Na recente polêmica sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a maioria tem insistido em olhar as árvores e esquecer a floresta. Em 17/10, o deputado Ivan Valente fez um discurso na Câmara Federal que pode ajudar a enxergar melhor a questão.
O deputado do PSOL-SP lembra que o ENEM foi criado no governo Fernando Henrique. Na época, a prioridade passou a ser a avaliação do sistema de ensino em prejuízo de sua qualidade. Os tucanos conseguiram a proeza de esconder as péssimas condições da educação nacional por trás de uma avaliação que as confirmava. A responsabilidade passou a ser de estudantes e professores. O histórico desprezo dos vários governos pela educação pública e de qualidade continuou, mas sumiu em meio a essa poeira toda.
Ivan diz que o ENEM é produto dessa mesma lógica. Segundo o deputado, o exame: “…minimiza o papel do Estado na promoção de uma educação de qualidade e maximiza o caráter individualista e competitivo na educação, importando uma lógica de mercado e incentivando a adoção de modelos de gestão privada, cuja ênfase é posta nos resultados ou produtos do sistema educacional”.
O atual governo não só manteve o ENEM, como ampliou sua utilização. No entanto, seu caráter continua a ser o de um grande vestibular nacional. Classificatório e excludente. Atualmente, ele é responsável por pouco mais de 100 mil bolsas do PROUNI e cerca de 83 mil vagas em universidades federais. De um lado, serve aos empresários da educação. De outro, a maioria daqueles que chegam às universidades públicas continua a ser formada pelos que cursaram as melhores escolas pagas.
* Sociólogo, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)