O corregedor-geral de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Roberto Wider, pediu nesta quarta-feira (18/11) licença do cargo por 30 dias. Desde o último dia 8, série de reportagens publicadas pelo Globo mostrou as relações do magistrado com o lobista Eduardo Raschkovsky, acusado de cobrar propinas a tabeliães, políticos e empresários em troca de blindagem em processos judiciais.
Em nota divulgada pela Assessoria de Comunicação da Corregedoria, Wider afirmou que o objetivo do afastamento é permitir ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça “que faça uma completa investigação, livre de qualquer ordem de dificuldade que a minha investidura à frente da Corregedoria-Geral pudesse de algum modo representar”.
A licença, anunciada pelo desembargador durante a sessão desta quarta do Órgão Especial, ocorre no momento em que o relacionamento de Wider com Raschkovsky é alvo de dois procedimentos administrativos abertos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), bem como uma CPI prestes a ser instaurada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
A sessão desta quarta do Órgão, que era pública, tornou-se secreta para que o desembargador pudesse anunciar a decisão. Outros integrantes do Tribunal contaram que Wider tomou a iniciativa antes que o próprio tribunal, debaixo de forte pressão dos tribunais superiores de Brasília, optasse pelo afastamento.
Na mesma sessão, o desembargador também anunciou que, nesta quarta mesmo, entrou com queixa-crime no Ministério Público contra os autores da reportagem “pelas notícias difamatórias, por crime de calúnia contra funcionário público em suas funções”.
A série de reportagens foi embasada em farta documentação — alguns destes papéis já foram mostrados — e depoimentos gravados.
Com o afastamento, o Conselho da Magistratura vai criar uma comissão, formada por cinco desembargadores, para investigar o envolvimento do corregedor no caso. O desembargador disse, na nota, que nada teme: “Repudio, uma vez mais, o teor insano e calunioso dessas reportagens com minha máxima veemência e desassombro”.
O ministro Gilson Dipp, corregedor-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), anunciou que vai ampliar a inspeção iniciada nesta quarta no 15º Ofício de Notas da Capital para o 11º Ofício de Capital e 6º Ofício de São Gonçalo. Os três estão envolvidos em denúncias sobre a ação de Raschkovsky — um contrato obrigava o 15º a repassar mensalmente 14% da renda bruta para o lobista. Depois que o pagamento foi cortado, o cartório sofre uma correição extraordinária. Já o 11º e o 6º (São Gonçalo) tinham como oficiais responsáveis, nomeados em março por Wider, dois advogados do escritório L. Montenegro, administrado por Raschkovsky .
Em lugar de Wider na Corregedoria ficará o desembargador Azevedo Pinto, terceiro vice-presidente. (O Globo)